sábado, março 10, 2018

Um dia, a televisão há-de dar pela nossa ausência


A propósito de jogos à sexta-feira, à segunda, ao sábado , ao domingo de manhã e ao diabo que os carregue

«Os clubes perceberam que havia bom dinheiro a ganhar e as empresas de televisão estavam dispostas a abrir mão dele; depois desse maná, o comportamento da Liga de Futebol tem-se assemelhado ao da mítica menina que vai para o convento. A Liga autoriza toda a gente a fazer o que quiser – alterar a hora do início do jogo, ou as dia, ou as equipas, ou as camisolas, tanto faz; nada é demasiado trabalhoso para eles. Entretanto, os adeptos, os clientes, são vistos como imbecis crédulos e submissos. A data anunciada no nosso bilhete não tem qualquer significado; se a ITV ou a BBC quiserem agendar a data para uma altura que lhe seja mais conveniente, podem fazê-lo. (…)
Continuo a ver em Highbury mesmo os jogos que passam na televisão, sobretudo porque já paguei o bilhete. Mas nem pensem que vou até Coventry ou Sunderland ou qualquer outro lugar se puder ficar sentado em casa a ver o jogo, e espero que muitas outras pessoas façam o mesmo. Um dia, a televisão há-de dar pela nossa ausência. Afinal de contas, por mais que se ocupem do público, não conseguirão criar ambiente porque não há-de estar lá ninguém: estaremos todos em casa a ver pela televisão. Espero que os managers e os proprietários dos clubes nos poupem então a coluna pomposa e amarga no programa oficial de jogo, queixando-se da nossa incorerência.»


“Febre no Estádio”, Nick Hornby, 2001, Teorema, em tradução fraquíssima de Maria Augusta Júdice

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