quinta-feira, junho 09, 2005

O ovo e a galinha

(Washington, 8 de Junho) – Aparentemente, não é só em Portugal que se modificam decretos na escuridão dos gabinetes ou se promovem alterações legislativas pela porta do cavalo. Uma investigação do “Washington Post” tem dado que falar. Em causa o novo pacote legislativo da Administração Bush relativo ao mercado energético.
Inserido no amplo programa norte-americano de redução da dependência do petróleo e de contribuição para a melhoria da qualidade do ar, o novo diploma aparentemente incentiva os construtores de veículos híbridos (capazes de se moverem a gás ou etanol), oferecendo-lhes benefícios fiscais e poupando-os das multas por incumprimento de metas ambientais que, no ano passado, totalizaram 1,6 mil milhões de dólares. O projecto parecia louvável, mas uma ONG, a Natural Resources News Services, descodificou o documento para o Post e os sorrisos rapidamente desapareceram.
Como os preços do etanol e outros biocombustíveis não são ainda competitivos, a maior parte dos consumidores opta ainda pelos combustíveis fósseis. Ora o diploma não tem em conta o tipo de combustível que cada automobilista abastece. Limita-se a premiar todos os construtores que disponibilizem a opção pelo etanol a par do gás. E naturalmente é previsível que o consumidor mantenha a mesma orientação.
Todos os anos, o conusmo de gasolina no país aumenta 4%, e esta medida não travará minimamente esse crescimento. Limita-se, na essência, a poupar alguns milhares de dólares à maior parte dos construtores automóveis.
De certa forma, a polémica resume o velho enigma do ovo e da galinha. Os representantes da indústria de refinação alegam que não produzirão combustíveis limpos até haver automóveis que os usem; os construtores automóveis defendem-se, dizendo que não produzirão carros movidos a biocombustíveis sem haver um mercado competitivo de fornecimento de combustível alternativo. O público desconhece as oportunidades dos novos combustíveis ou, quando conhece, naão pretende pagar mais por isso. E deste círculo infinito ninguém parece querer sair.

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