domingo, fevereiro 06, 2005

A Noite das Comadres

(Açores) Não conhecia a tradição e não fiquei com muita vontade de repetir a façanha. Na quinta-feira anterior ao Carnaval, os Açores vivem a noite das comadres. Meninas e senhoras de todas as idades engalanam-se e saem à rua para jantar sem os «homes».
Infelizmente, fui apanhado desprevenido pela efeméride, pelo que, quando dei por ela, já era tarde. Tudo - mas realmente tudo - estava lotado na ilha onde me encontrava. Restaurantes de luxo, restaurantes de hotel, «drives-in», tascas. Elas tomaram conta de tudo («Elas comem tudo e não deixam nada», diria a música de Sérgio Godinho). O ruído no interior de cada estabelecimento de restauração fez certamente disparar os sismógrafos da ilha.
Lá jantei, tarde obviamente, e com a desagradável sensação de estar a invadir o espaço que não era para mim e mirado de soslaio por quem sentia que aquele dia era só para comadres - descrição em que, naturalmente, não encaixo!
E o que pensam eles do fenómeno? Questão pertinente e muito séria. Pelo que pude apreciar, embora hesite em traçar conclusões sociológicas, eles... amuam. Ficam em casa a resmungar, a tratar dos filhos (se os há), a arrumar cozinhas (bem feito!) e a praguejar contra a libertinagem e a abertura de espíritos!
Diz um jornal local que desembarcaram numa das ilhas do grupo oriental 20 «strippers» masculinos para animar as comadres. Não vos conto o que ouvi de alguns pais, maridos e irmãos! Nenhum tinha imaginado que a igualdade de oportunidades pudesse ser levada até este extremo. E é ver, nestas ilhas que Mota Amaral quis "moralizar" e impor a santa e ímpia ética dos puros de espírito, comadres de todas as idades a gozar a liberdade recém-adquirida.
Da minha parte, digo-vos que, só por ver as carantonhas que eles fazem, incapazes de encontrar motivos racionais para justificar que elas não possam gozar os mesmos privilégios dos «homes», valeu a pena estar cá durante a noite das comadres. Mesmo jantando às dez da noite!

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